terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Canção pra mim...


(Foto: Bons Fluidos)

Hoje, que Renato grite, por mim, a canção presa nas amarras da minha garganta.

Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está disperso
É sereno o nosso amor
E santo este lugar

Nos tempos de tristeza
Tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar
Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor. É hora de acordar
Tenho anis, tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção

Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração
Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo e depois renunciar
Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado

Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir
Tenho jasmim, tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã

Ninguém vai me dizer o que sentir
Eu, eu vou cantar uma canção pra mim

(Soul Parcifal - Legião Urbana)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Porque descrever-se é limitar-se...




Ama sentir, tocar, educar, pegar, ler, escrever, bailar, tecer, ser... e deixar-te ser, também.


Quer o oriente e o ocidente. O masculino e o feminino. O certo e o errado. O bem e o mal. A verdade e a mentira.

Às vezes rosa vermelha, às vezes lírio, às vezes cacto.

Às vezes mulher, quase sempre menina.

Às vezes amarga, quase sempre doce.

Às vezes toca flauta, quase sempre prefere um tambor.

Às vezes suas cores são de Almodovar, às vezes de Frida Kahlo, às vezes são apenas cores.

Ás vezes quer voar, às vezes implora por voltar ao chão.

Às vezes semeia a paz, mas gosta mesmo é das consequências do caos.

Às vezes parece que tem 5, algumas vezes 60.

Às vezes fala inglês, quase sempre português, outras vezes nem ela sabe o quê.

Às vezes quer ser uma coisa, quase sempre procura ser outra. E não se cansa de procurar.

Às vezes é isso... mas quase sempre é aquilo mesmo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

É cega ou não quer ver?




Eles não reproduzem discursos abstratos, mas plásticos, ricos em metáforas. Não moldam conceitos, contam os fatos. Foi o senhor que nos fez entender que ninguém é mais culto do que o outro por ter freqüentado a universidade ou apreciar as pinturas de Van Gogh e a música de Bach. O que existe são culturas paralelas, distintas e socialmente complementares. (...) O pobre sabe, mas nem sempre sabe que sabe. E quando aprende é capaz de expressões como esta que ouvi da boca de um senhor, alfabetizado aos 68 anos: 'Agora sei quanta coisa não sei'. (...) O senhor fez os pobres conquistarem auto-estima. Graças ao seu método de alfabetização, eles aprenderam que 'Ivo viu a uva' e que a uva que Ivo viu e não comprou é cara porque o país não dispõe de política agrícola adequada e nem permite que todos tenham acesso à alimentação básica. (...)

(Carta de Frei Betto a Paulo Freire)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Pecadora confessa...




"Não há necessidade de grelhas, o inferno são os outros." (Sartre)


Não há prazer em matar. Há necessidade. Vez em quando mato baratas, formigas, mosquitos e outros insetos afins. Mas não gosto. Só o faço quando é estritamente necessário. Olho pro corpo estendido, esmagado e me arrependo. Não há prazer envolvido nisso. Matei-o porque? Porque olhá-lo me dava nojo? Porque seu zumbido me irritava os ouvidos? Ou seria o medo? Medo de que me ataque?


Enfim...nunca parei pra contar meus cadáveres.

Mas confesso, ainda, que matei outras espécies: amigos, amores, parentes ou meros conhecidos.

Alguns foram mortos pela minha conhecida memória fraca e pouco conectada ao coração. Esses delitos foram indolores, dada a procedência das vítimas. Pouco me importaram. Levaram pouco e deixaram menos ainda.

Alguns, poucos, são meus piores feitos. Esses são os que doem. Revivo, vez em sempre, cada passo dado para que o dia de sua morte fosse inevitável. Pego-me pensando se os matei ou os roubei. Sim, porque esses continuam andando por aí, com os mesmos corpos moribundos de sempre e acredito que eu os tenha roubado a alma, já que agora fazem uso de uma outra, de pior ou menor qualidade, que não são as mesmas de antes.

Roubei. Sim, roubei suas almas e as guardei, cada uma em seu pote, devidamente ornamentado e estocado num canto qualquer dentro de mim. Vez em quando seus invólucros brilham tanto que se conectam ao coração, à mente e as lembranças de suas belas almas me reavivem o desejo de ressuscitá-los.
Impossível. Seus corpos abrigam novas almas e enquanto não se desfizerem delas, nada posso fazer, além de chorar sobre o leite derramado. O que me consola é que eles foram vítimas e cúmplices de seu próprio desprazer. Matei-os ou roubei-os porque pediram; porque a faca foi cravada com duas mãos e somente uma era a minha.
Não houve prazer, mas também não houve arrependimento.
Aproveito para confessar que já cometi crimes não tão perfeitos. Achei que havia matado, mas nem cheguei perto disso, segundo minhas contas com umas três vítimas. Enganei-me. Não tinha razão para tentar matá-las. Tentei faze-lo pelos mesmos motivos que se matam insetos: Dificuldade de encará-las? Incômodo? Medo? Autodefesa?
Nesses casos, estava com a faca em punhos quando percebi que estava errada. Ignorei-as, deixando-as no local do crime, paralisadas, sem maiores explicações.
Pouco ou muito tempo depois resolvi procurá-las, pedir perdão pelos meus crimes, pelas ameaças e torturas de morte. Hoje vivo com a consciência quase tranqüila. Falta apenas um reencontro, um abraço, uma voz e nada mais para deitar a cabeça no travesseiro e dormir o sono dos pecadores confessos.

P.S: Na foto, eu e minhas quase-vítimas (Arquivo Pessoal).

Hipermetropia


Foi esse o diagnóstico. Nem lembro se perguntei o que era, mas peguei a nova prescrição e saí.


Tão logo cheguei em casa, tardiamente me açoita a curiosidade de saber o significado do diagnóstico. Usando óculos tão assiduamente desde os 7 anos, e chegando ao ponto de quase tomar banho com os mesmos, não me faria diferença a novidade que meus olhos traziam. Mesmo assim, procurei o dicionário.


Logo vejo o que traduzo em vocabulário vulgar: dificuldade ou impossibilidade de enxergar “de perto”.
Fiquei a pensar o resto do dia, da semana...
Eureka! De fato. Belo diagnóstico.

Uma vida inteira procurando o que eu pensava que nunca iria encontrar, pois deveria estar muito longe para que se pudesse ver.
Boba! Estava tão perto que eu, como tantos portadores dessa mesma ‘doença’, não enxerguei.

Troquei meus óculos.
Mudei conceitos.
Escrevi novas metas.
Acrescentei sonhos ao meu futuro.

Das mais belas coisas (Parte II)




(O áudio não está "aquelas coisas" então a letra vai abaixo.)

Na pele branca (Daniel Angi)

Eu sou o indio que nasceu na pele branca

Prá falar pro povo branco o que o índio falaria,
E que na voz do índio, branco não escutaria.

Somos todos iguais, só mudam os ideais
Enquanto um quis viver bem com a natureza,
O outro quis riqueza mesmo tendo que matar.
Enquanto um sabia bem como viver,
O outro quis poder mesmo tendo que matar.

E chega de sacanear, chega de nos enganar,
O branco derrubou nossas florestas, cobriu com asfalto
E aos rios cobriu com merda.
A "justiça" brasileira cade? Que além de devagar,
É cega e não quer ver.
(como que uma raça tão cruel, pode se julgar superior?)

Eu sou o preto que nasceu na pele branca
Pra falar pro povo branco o que o preto falaria
E que na voz do preto, branco não escutaria.

Nós somos só animais, não temos nada de mais
A não ser uma grande inteligência
Na maioria usada com muita negligência
Inteligência muito mal usada,
Em prol da minoria privilegiada.
E se eu te perguntasse a diferença
Entre o branco e os outros povos
O que você responderia?
Que um é de inteligencia curiosa e o outro exercita a sabedoria,
Enquanto um tira a comida da sua roça,
O outro quer conforto e tecnologia.

Eu sou a criança que esperou ficar adulta
Pra falar para um adulto o que a criança falaria
E que na voz de uma criança, adulto não escutaria

O importante é brincar e sonhar e amar sem se preocupar
A vida nos faz crescer e quem sabe esquecer de um grande prazer
Que é aquele de ser uma criança, brincar e dançar
Quando o universo canta.
Nunca deixe o seu sonho merrer,
Os homens se tornam o que sonham ser,
Se você sonha ser um grande ser
A vida pode ser muito boa pra você.

Eu sou o bicho que nasceu na pele humana
Pra falar pro povo humano o que o bicho falaria
E que na voz do bicho, humano não escutaria.
Eu sou a planta que nasceu na pele humana
Pra falar paro povo humano o que uma planta falaria
E que na voz da planta, humano não escutaria...

Daniel Angi é estudante de Ciências Biológicas na UNESP de Rio Claro. Entra nas salas de aula e faz seus shows divulgando seu CD (que ele vende a R$5,00 e passando seu famoso chapéu ao final das apresentações). Suas músicas são conhecidas e apreciadas por praticamente todos os alunos menos alienados e um pouco mais engajados do câmpus.
Esse vídeo foi gravado na apesentação na Semana de Estudos da Pedagogia de 2007. Seus shows "oficiais" como esse lotam o anfiteatro da universidade, deixando gente cantando do lado de fora.
E viva a mídia e a arte independente.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ausência


Certa vez me disseram que "saudade é o amor que fica". Com sua ausência cotidiana, além do amor, fica o silêncio do seu bom humor quase que constante, da alegria da chegada, das brincadeiras intermináveis com o cachorro que o esperava prontamente às 18 horas todos os dias, das trocas, dos conselhos (errados ou não) e do aparelho de som, que antes gritava alegrias ou tristezas, depois de um dia "daqueles".
Mesmo com a distância tão pequena, a ausência da convivência diária se faz gigante. Quando ele chega, agora como visita, meu cachorro balança tanto o rabo que chego a pensar que o mesmo vai se desprender de seu pequeno corpo, tamanha a alegria ao revê-lo.
Mas, certamente, se eu também tivesse um rabo, cada visita dele me custaria um novo...


(Imagens: Arquivo Pessoal)


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Respira... Inspira...


"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."

(Clarice Lispector em 'Um sopro de vida')
P.S: Respira... Inspira...

De cor?

(Imagem: ZonaMix)
Quando eu nasço, sou preto.
Quando eu cresço, sou preto.
Quando eu fico no sol, sou preto.
Quando eu tenho medo, sou preto.
Quando eu estou doente, sou preto.
E quando eu morro, continuo sendo preto.
E você, cara branco,
Quando você nasce, você é rosa.
Quando você cresce, você é branco.
Quando você fica no sol, você é vermelho.
Quando você fica no frio, você é azul.
Quando você tem medo, você é amarelo.
Quando você fica doente, você é verde.
Quando você morre, você é cinza.
E você ainda vem me chamar de "de cor"?

(Firas Chadli, criança africana, autora desse poema eleito o melhor do ano de 2006)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ponto de vista

(Imagem: Cartier Bresson)

Se mudo a vista, o ponto é outro.
Se mudo o ponto, outra é a vista.

Simples assim.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Desejos

(Imagem: Joshua Reynolds - "Child Prophet Samuel Prayer")

Que as perdas pelo meu caminho sejam encaradas como aprendizados.
Que meus sorrisos não sejam em vão.
Que meu jeito de amar seja compreendido e respeitado.
Que os beijos continuem sendo como foram os primeiros.
Que eu consiga amar o outro como ele é, compreendendo que suas falhas podem ser as minhas.
Que cada vez que a desesperança bater à minha porta eu possa me lembrar de que tudo passa.
Que eu possa, então, ser paciente.
Que o alívio necessário continue chegando nas horas certas.
Que a menina e a mulher que habitam em mim saibam conviver em harmonia.
Que eu saiba dançar conforme a música que me embala.
Que a música que embala meus dias seja doce, suave, compassada.
Que meus olhos enxerguem a luz em meio à escuridão dos dias que virão.
Que eu possa entender que perdi os amigos que necessitava perder para poder escolher e manter outros pelo caminho.
Que meu coração se preserve do ódio.
Que as forças que me acompanham continuem a me seguir por onde quer que eu tenha que ir.
Que em tempo algum eu me esqueça da Presença que está em mim, bem como em todos os seres.
Que eu confie e acredite que estar só é uma utopia.
Que a vida me devolva, em dobro, tudo o que eu aqui plantar.
Que eu consiga transformar meus medos em descobertas, minha tristeza em festa e meu andar cansado em passos de dança.
E que em cada um de meus passos, cansados ou não, fique a marca de alguém que sabia que seus desejos e escolhas, errados ou não, é que fizeram o ‘caminhar’ valer a pena.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Yoshua

(Quando ele fala, meu mundo cala. Salve Jorge!)

Yoshua, Yoshua
Avatar das esperanças
perdoai, perdoai
nossa intolerância

Calai, calai
o silêncio das crianças
que órfãs, nas ruas
ensurdecem a Terra

Trégua entre os mortos que hão de viver
Calma entre os anjos que hão de voltar
pra nova era romper as trevas
no ventre das fadas de Shangrilá

(Oração Yoshua - Jorge Vercilo)
(Imagem: Mix Pop)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Morgana fala...

Em vida, chamaram-me de muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. O mundo das fadas afasta-se cada vez mais daquele em que cristo predomina. Nada tenho contra o Cristo, apenas contra os seus sacerdotes, que chama a Grande Deusa de demônio e negam o seu poder no mundo. Alegam que, no máximo, esse seu poder foi o de Satã. (...) E agora que este mundo está mudado e Arthur – meu irmão, meu amante, rei que foi e rei que será – está morto (o povo diz que ele dorme) na ilha sagrada de Avalon, é preciso contar as coisas antes que os sacerdotes do Cristo Branco espalhem por toda parte os seus santos e lendas.

Pois, como disse, o próprio mundo mudou.

(...)

A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...Mas talvez eu seja injusta com eles. Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa, e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles.

“Todos os deuses são um deus”, disse ela, então como já dissera muitas vezes antes, e como eu repeti para as minhas noviças inúmeras vezes, e como toda sacerdotisa, depois de mim, há de dizer novamente, “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador. E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”.

Assim, talvez a verdade se situe em algum ponto entre o caminho para Glastonbury, a ilha dos padres, e o caminho de Avalon, perdido para sempre nas brumas do mar do Verão.
Mas esta é a minha verdade; eu, que sou Morgana, conto-vos estas coisas, Morgana que em tempos mais recentes foi chamada Morgana, a Fada.


("As Brumas de Avalon - A senhora da Magia" - M. Z. Bradley)

(Imagem: Fortune City)

A Papisa

(Imagem: Oliver Burston)

Sacerdotisa, Juno, Hera. Às vezes é retratada grávida. Seu rosto está quase coberto, como se ela tentasse esconder sua verdadeira identidade. Em sua mão direita um livro que pode ser o I-ching, a Tora ou a Bíblia.
O animal que lhe acompanha pode ser o gato ou o leão símbolos da magia e sabedoria ou um Pavão, símbolo da aparência, da renúncia e do poder de transformação.
Se em sua lenda ela escondeu sua identidade, era sábia porque gostava de ler, assumiu um alto cargo religioso (o de papa, ou papisa) e depois ficou grávida, são estes os elementos simbólicos que marcam esta carta e todo o seu significado: coisas escondidas, ocultas, sabedoria, espiritualidade, o poder feminino e a maternidade.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Vermelho

(Imagem: Yinsights)

"Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Os homens vertem sangue por doença
Sangria
Ou por punhal cravado,
Rubra urgência a estancar
Trancar no escuro emaranhado das artérias.


Em nós o sangue aflora como fonte
No côncavo do corpo
Olho d'água escarlate
Encharcado cetim que escorre em fio.
Nosso sangue se dá de mão beijada
Se entrega ao tempo
Como chuva ou vento.


O sangue masculino tinge as armas e o mar
Empapa o chão e os campos de batalha
Respinga nas bandeiras
Mancha a história.


O nosso vai colhido em brancos panos
Escorre sobre as coxas
Benze o leito
Manso sangrar sem grito
Que anuncia a ciranda da fêmea.


Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar.
Pois há um sangue que corre para a Morte.
E o nosso que se entrega para a Lua."
("Eu sou uma mulher" - Marina Colasanti)

sábado, 26 de setembro de 2009

Para L., com amor (Parte 1)

Sabe, L., tenho pensado em como fazer com que você saiba tudo aquilo que eu tenho pra te contar. Coisas que eu não desejo que você siga, goste ou aceite. Mas são coisas que eu gostaria que você ao menos soubesse sobre sua mãe, sobre a vida, sobre o mundo.Tenho medo de esquecer de algum detalhe quando eu estiver encantada demais com você e acabar por deixar de lado o que é realmente importante e o que você deve saber pra fazer com que a vida seja um pouco menos dura. Sim, porque um dia você vai perceber que ela não é nada fácil. Mas espero que você, em algum momento de sua vida, se dê conta de que é isso o que a torna encantadora. É tornar a vida menos miserável que nos torna pessoas melhores e isso é evoluir (vou falar sobre isso mais adiante, num capítulo à parte).
Hoje, meu anjo, deixo-lhe a letra de uma música que diz muito. Eu diria que ela resume o que eu quero que você saiba pra começar, pra se manter em pé.
E se amor é tudo o que você precisa, filho(a), acredite: você já tem tudo. E muito mais.
Love, love,love
Love, love, love
Love, love, love
There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say but you can learn how the play the game
It's easy
There's nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can do but you can learn how to be you in time
It's easy
All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
Love, love, love
Love, love, love
Love, love, love
All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
There's nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
No where you can be that isn't where you're meant to be
It's easy
All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
('All you need is love' - Lennon/McCartney)

Das mais belas coisas

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sobre chifres e unicórnios


Não procure chifres em cabeça de cavalos, pois os unicórnios existem para nos fazer sonhar.” (Chico César)

Platônico


(Imagem: Fotos e Imagens)

Desde sempre, minha casa foi 'estadia' ou 'casa de passagem' para os muitos gatos de rua alimentados e cuidados pela Dona Joana, minha quase-vizinha da rua do lado. Sempre fui acostumada a vê-los perambulando tranquilamente pelo meu quintal. Acredito que a minha deveria ser a casa que eles mais gostavam: ninguém os tratava como intrusos. Estavamos acostumados com a presença deles.


Isso até a chegada do meu pequeno, porém "neurótico" cachorro. Foi ele crescer um pouco, deixando de ser filhote, e acabaram-se os gatos no quintal. Isso porque ele os odiava. Latia e corria atrás deles. Não sobrava um único para contar a história.


A vingança tarda, mas não falha e meu cachorro, há algum tempo, está ficando velho, 'sono-lento' e preguiçoso. Ainda late um pouco para as visitas, mas não se incomoda mais com os gatos como antes. Pelo menos já não late e não os persegue. Por consequência, eles voltaram. O fato deles voltarem não incomodou tanto a mim e meu sono pesado quanto ao meu pai e seu sono mais que leve, já que eles fazem uma sinfonia em cima do telhado e o coitado não consegue dormir.

Gatos à parte, somente de um me interessa falar, de fato. Eu nunca tive um gato, sempre preferímos os cachorros. Mas com o advento da velhice precoce do meu pequeno cão, a chegada do meu primeiro foi inevitável. Foi num dia, desses "que a gente se sente como quem partiu ou morreu" e estava eu, mais uma vez sentada no meu quarto, olhando através da janela o meu Ipê Amarelo todo desfolhado pelo outono que, pra mim, parecia interminável, quando olho algo se mexendo por entre os galhos. Fixei os olhos e qual não foi minha surpresa quando percebi que era um gato. Ou melhor, era o gato mais lindo que eu já havia visto. Enfiei na cabeça, logo de primeira: cinza, nariz pequeno, olhos bem desenhados, todo delicado...um legítimo francês.


Fiquei mais surpresa ainda quando ele permaneceu me fitando por longos minutos. Longos mesmo. Só para que se possa entender, o ipê fica do outro lado do muro da minha casa, no quintal gigante da vizinha louca, o que não é nem longe, nem perto da minha janela. E ainda assim ele me percebeu. E me olhava, como quem quisesse dizer alguma coisa.


Daquele dia em diante, ele começou a aparecer sempre que as coisas não iam bem, nos momentos críticos, como que querendo me lembrar que tudo acabaria bem. Que o sol sempre aparece depois de um tempestade daquelas. E a cada chegada (acredite, foram muitas) eu o sentia mais meu. Era como se ele me pertencesse.Tive que chamá-lo por um nome. Pensei em chamá-lo Jorge, nome de um professor da faculdade que morou anos em Paris e nos deu um pedacinho da França a cada aula, encantado-nos com tamanha beleza de cultura, mas decidi que Jorge não é lá um nome muito francês. Não me pergunte porque, mais o nome escolhido foi Lafayette. Afinal, pra mim, o gato é francês e merecia um nome à altura. Com o tempo, passou a fazer estripulias pelo ipê que a essa altura estava tão cinza quanto ele, o que ainda me deixa um tanto apreensiva. Ele escolhe os galhos mais finos que puder para ficar deitado ou para conseguir chegar o mais próximo possível de uma rolhinha desatenta. E eu, acometida do que chamo de 'sindrome de mãe sem filhos' chego a perder o ar tamanho o desespero e o medo de que ele caia dali e tenha que abrir mão de uma das suas famigeradas 'sete vidas'.


Lafayette é meu gato-platônico. Ele é meu, mas não sabe. Pelo menos eu acho que não. E isso pouco me importa contanto que ele esteja aqui de vez em quando, só pra me dar um pouco de ação, me fazendo esquecer do que é preciso esquecer e me lembrando que tudo vai ficar bem. Sempre. E que assim seja.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Adote uma caneca!

(Imagem: Loja do Lar)

Sim, eu ando com uma caneca de plástico verde na bolsa. Na faculdade isso é muito comum. Quando adotei a minha, eu me achava "a" estranha fora da faculdade quando todos ficavam me olhando como se eu fosse um alienígena portando uma caneca de plástico. E verde. Não que isso não tenha mudado, mas agora quem mudou foi eu. Não acho estranho. As pessoas é que acham. Para mim, é mais que normal: é necessário.

Gosto de saber que cada copo descartável que eu não uso contribui e muito para o meu futuro, para o futuro dos meus futuros filhos e para o de tantas outras criaturas (cada copo descartável leva aproximadamente 4 séculos para de desintegrar).

Atitude simples, benefício enorme.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Chegaram!

(Imagem: Jeune fille lisant de Alexei Alexeievuitsch, 1878)

Celebrando a chegada de novos e velhos amigos com um sentimento de posse: agora são meus. Não são emprestados, de propriedade de bibliotecas, amigos ou parentes: agora são meus.

Penso na possibilidade de poder rabiscá-los, grifá-los, levá-los para onde quiser, sem medo: agora são meus.

Nada substitui a chegada de amores antigos: "Felicidade Clandestina" (Clarice Lispector), "Os Miseráveis" (Victor Hugo), os quatro volumes de "As Brumas de Avalon" (Marion Zimmer Bradley) e "Alice no País das Maravilhas" (Lewis Carroll).

Além desses, um amor novo: "Shantala" (Frédérick Leboyer). Fotos lindas e muita técnica com sabor de poesia.

"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante." (C. Lispector)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um sopro de vida

(Imagem: Evora)

"Se este livro vier jamais a sair, que dele se afas­tem os profanos. Pois escrever é coisa sagrada onde os infiéis não têm entrada. Estar fazendo de propósito um livro bem ruim para afastar os profanos que que­rem "gostar". Mas um pequeno grupo verá que esse "gostar" é superficial e entrarão adentro do que ver­dadeiramente escrevo, e que não é "ruim" nem é "bom".

A inspiração é como um misterioso cheiro de âmbar. Tenho um pedacinho de âmbar comigo. O cheiro me faz ser irmã das santas orgias do Rei Sa­lomão e a Rainha de Sabá. Benditos sejam os teus amo­res. Será que estou com medo de dar o passo de morrer agora mesmo? Cuidar para não morrer. No entanto eu já estou no futuro. Esse meu futuro que será para vós o passado de um morto. Quando acabardes este livro chorai por mim um aleluia. Quando fechardes as últi­mas páginas deste malogrado e afoito e brincalhão li­vro de vida então esquecei-me. Que Deus vos abençoe então e este livro acaba bem. Para enfim eu ter re­pouso. Que a paz esteja entre nós, entre vós e entre mim. Estou caindo no discurso? que me perdoem os fiéis do templo: eu escrevo e assim me livro de mim e posso então descansar."

('Um sopro de vida' de Clarice Lispector)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mulher


(Imagem: 'Poème de l’âme' de Louis Janmot)
Lembra mulher de quando teus pés descalços pisavam na terra molhada, depois da tempestade tão esperada.
Recorda quando teus ouvidos sabiam compreender as mensagens que o vento assoprava para o teu espírito.
Inspira fundo e sente o aroma daquela época onde viveste próxima aos frutos e às flores e tudo acontecia em tempo certo, sem apressamentos.
Compreende que teu corpo e tua alma obedeciam à voz da Grande Mãe, e tua vida fluia plena de sabedoria, pois tu representavas a Deusa, o Sagrado Feminino, e de ti resplandecia toda a generosidade.
Recorda que conhecias bem os mistérios da lua, tua irmã, e te guiavas por instintos e intuições, sonhavas com as respostas e cheia de confiança em teu coração guiava a tua vida e de tantos outros por caminhos seguros.
Tua natureza, sempre disposta a dar vida e dela cuidar, ligada por estreitos laços aos ritmos e ciclos do universo, sabia cantar e dançar, e assim espalhava alegria pelo norte, pelo sul, pelo leste e pelo oeste, sem perder o teu centro.
Rosa dos ventos e dos tempos, hoje estás novamente aqui, mas não te esqueça jamais de continuar a cumprir o teu sagrado papel.
O Universo ainda carece do teu feminino...Ah! Então canta e dança...
E o destino dos homens se cumprirá!
(Autoria desconhecida)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Espera

É como se cada dia dos últimos dias fosse um prelúdio do que está por vir.
Medo, dor e alegria. Tudo junto e mais que misturado: necessário e esperado. Ou não?
A cada dor uma pontada da certeza: a aproximação.
É a espera de não se sabe o que. É a certeza do que não se conhece bem.
É como se cada dia dos últimos dias fosse o apito de um trem que parece nunca chegar, mas que se vê apontar ao longe.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Setembro


Saudades de Paraty, a cidade com mais portas e janelas que eu já conheci. A mais bela, também. Lugar para admirar, sonhar e , tal qual suas portas e janelas, escancarar o peito tamanha a alegria que proporciona. Só estando lá, mesmo.

Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez

Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim é facil inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer

Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender...

(Beto Guedes - Sol de Primavera)




terça-feira, 25 de agosto de 2009

Saudade é o amor que fica...

(Imagem: Arquivo Pessoal)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O menino da Febem

“O menino acabara de chegar na Febem, dentro de um camburão. Depois de um susto, uma senhora se aproximou dele. Pela primeira vez na vida um adulto colocava a mão no joelho daquela criança e pedia licença pra falar com ela. Na Febem, isso não acontecia. Logo, o menino pensou: ‘Ih, essa mulher quer me bater’. Mas ela disse, com sotaque carregado: ‘Eu gostarrrria de falarrrr com você’.

Ele ficou paralisado e disse que morria de pena, pois ela falava tudo errado, certamente tinha língua presa. Ela riu e disse que, onde morava, todos falavam assim. Imediatamente o menino retrucou: ‘Ah, sei, como os leprosos!’ E ela disse que não, que morava do outro lado do planeta, que a terra era redonda, que enquanto aqui era de dia, lá na França era noite.


O menino pensou que ela era doida mesmo e fugiu. Três dias depois se reencontraram em uma rua em Belo Horizonte. Ela gritava: ‘Robertô, Robertô!’E ele pensou: ‘Meu Deus, lá vem a doida francesa’. Mas viu que ela tinha um relógio de ouro e decidiu assaltá-la. Mas ela pediu que ele ficasse em uma semana em sua casa, pois ela precisava gravar uma entrevista.


Imediatamente o menino pensou que poderia roubar outras coisas: videocassete, televisão e dinheiro. E começou a aprender francês, enquanto ensinava para ela a língua dos meninos de rua, algo assim como a ‘língua do pê’. Pela primeira vez, alguém pedia que o menino, que tinha treze anos, ensinasse algo. As conversas eram mais ou menos assim: Ela dizia ‘vopêcêpê espêtápê bempê’? E ele respondia: ‘Oui, madamme!’


Os dias foram passando e ele decidiu que só roubaria a televisão e o dinheiro. Depois, só o dinheiro. E ela, que era casada e voltaria à França em uma semana, ia se esquecendo da viagem de volta. Marguerite - esse era seu nome - renovou o visto de permanência no Brasil por duas vezes e, um ano depois de encontrar o menino, ela conseguiu sua guarda oficialmente. E alguns anos depois, o menino irrecuperável que chegava à Febem se transformou em um professor. Este menino sou eu”.

"O Contador de histórias"

(Imagem: Site Oficial do fime O contador de histórias)

Depois da sequência de filmes brasileiros que narraram as histórias de meninos excluídos da sociedade que, após serem marginalizados, desassistidos e muitas vezes mortos como em “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Ônibus 174” um filme simples e ao mesmo tempo tão rico salta aos olhos de brasileiros sedentos de bons filmes nacionais.
Semana passada, discutindo sobre meu Trabalho de Conclusão de Curso com uma amiga querida, cheguei a um nome comum carregado por um homem nada comum. Me apaixonei pela história desse homem capaz de tornar suas histórias em contos e de tanto contar histórias percebeu que uma maior precisava ser contada: sua própria história. Descobri nessa mesma semana, que um filme sobre essa história iria chegar às telonas em breve.
Roberto Carlos Ramos é uma exceção nas estatísticas brasileiras. É Pedagogo, Mestre em Educação pela Unicamp, Pós-Graduado em Literatura Infantil pela PUC-MG, membro da Associação Internacional dos Contadores de Histórias e Valorizadores da Expressão Oral Mundial, sediada em Marselha (França). Em 2001 foi eleito um dos dez maiores contadores de histórias da atualidade num congresso em Seattle, nos Estados Unidos. Em contraponto a tudo isso, viveu dos 6 aos 13 anos de idade longe da família e na Febem. Já usou drogas e roubou. Teve 132 fugas registradas no seu prontuário e foi considerado "um caso irrecuperável". Roberto foi “salvo” pelo amor de uma francesa que acreditou que era possível fazer mais por ele do que o “sistema” previa.
“O contador de histórias” estreou nacionalmente no último dia 7. Você pode ler mais sobre o filme aqui.



P.S: Quem me “apresentou” essa figura foi a Emelin, psicanalista, terapeuta holística, meio minha tia (apesar de odiar ser chamada assim...rs...), minha professora de Tai Chi Chuan, quase uma entidade mesmo sendo escorpiana, enfim, uma figura que merece uma postagem à parte tamanha quantidade de atributos que poderia usar para descrevê-la. Namastê, "Mestra"!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ela


(Imagem: George De la Tour, Maria Madalena, 1638)

Jerusalém
Setembro de 1997

"Quando a massa em movimento chegou mais perto, ela viu a mulher pela primeira vez. Uma ilha solitária e serena no meio do caos, era uma das poucas mulheres na multidão... mas não era isso que a tornava tão diferente. Era o seu comportamento, uma atitude imponente, que a distinguia como uma rainha, apesar da camada de poeira que cobria-lhe as mãos e os pés. Estava um pouco desgrenhada, os cabelos castanho-avermelhados lustrosos presos parcialmente por baixo do véu escarlate, que cobria metade do rosto. (...)

Ficou impressionada com a beleza angustiada de seu rosto. Tinha feições delicadas e refinadas. Mas foram os olhos que continuaram a assediá-la muito depois que a visão acabou. Eram olhos enormes e brilhantes, com lágrimas não derramadas, em algum ponto no espectro de cores entre o âmbar e o verde, com uma luminosidade castanho-clara extraordinária que refletia uma infinita sabedoria e uma tristeza insuportável, numa mistura comovente. (...)

Ficou em transe, paralisada, enquanto a mulher a fitava. O momento foi rompido quando a mulher baixou os olhos para a menina que puxava pela mão, com urgência. A criança também fitou-a, com aqueles enormes olhos claros que herdara da mãe. Por trás dela havia um menino, mais velho e com olhos mais escuros que os da menina, mas obviamente filho daquela mulher(...)

(...) Ela e o homenzinho contornaram uma esquina e pararam na frente de uma quadro, um retrato grande e antigo de uma mulher. O tempo, o incenso e séculos de resíduos de velas oleosas haviam impresso seu tributo sobre a obra de arte. Para ver melhor, ela teve de chegar mais perto do quadro escuro, os olhos contraídos. (...) Olhou atentamente para o quadro, um retrato antigo de uma mulher usando um manto vermelho. (...) Ao se inclinar em sua direção, verificou que a mulher usava um anel na mão direita, um disco de cobre redondo, com um padrão de nove círculos em torno de uma esfera central. Ela levantou a mão direita, a fim de comparar o anel que acabara de ganhar com o que aparecia no quadro. Os anéis eram idênticos." ( "O segredo do anel" - Kathleen McGowan)

Leitura mais que recomendada, especialmente aos que se interessam por história, sociedades secretas e o sagrado feminino. Ou para quem pelo menos gosta de uma boa história cercada de mistérios e simbologia. Um presente a leitura desse livro (que devorei em poucos dias e ele tem muitas páginas) com indicação muito mais que especial da tia Magda (que não por acaso tem esse nome...).

P.S: Magda: nome de origem inglesa. Variação ou diminutivo de Magdalena.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Histórias que eles contam...

- E aí, Nanda, você vai se casar?
- Não vou me casar. Eu vou ter um Pastor Alemão.
- Ah...Tá bom... (!?)

*Nanda é a Maria Fernanda, 9 anos, minha prima, fã do Harry Potter ("Dumbledore tem estilo!"), escritora, a criativa de plantão e moradora de um planeta que é só dela.

Evidências


(Imagem: Arquivo Pessoal)

"Olha a maneira como você se senta. Observe suas mãos, suas roupas. Olha a a maneira como você se senta... Você é uma menina, uma criança. É isso que você quer pra você? É assim que você quer continuar? Você não cresceu..."

A vontade era de dizer sim. Mas eu apenas sorri. Sorri porque na verdade não sabia o que dizer... Nunca fui fã de psicólogas (no feminino porque só me consultei com mulheres até então). Só conheço uma psicóloga que confio e com essa não posso me consultar. Não bastasse a psicóloga, a cabeleireira da minha mãe ri da minha cara quando disse que tinha 22: "Pare com isso, menina. Eu te 'dava' 15 ou 16. Que carinha de bebê!". Sorri novamente e consegui esboçar um "Que bom!". Minha mãe sempre me diz que não cresci, que ainda sou o bebê dela. Mas mãe não conta e eu nunca liguei: como sempre, ela tem razão.
Às vezes acho um pouco de exagero, mas não tiro a razão de quem me chama de menina.

Nas festas familiares sempre me pego no meio das crianças, que quase sempre são meus primos. Prefiros seus "papos", suas brincadeiras, sua maneira de se divertir. Adoro ouvir suas histórias, suas dicas de filmes e livros, suas descobertas narradas por olhos de cortinas recém-abertas para o espetáculo que é a vida.

Adoro Yakult, Bala-chiclete e danoninho. Eu ainda tenho ursos de pelúcia que amo no quarto (todos devidamente batizados com nomes decentes). Eu adoro livros infantis. Sou fã de Peter Pan & Wendy e d'O Pequeno Príncipe. Aprendi a amar os livros de Harry Potter.

Quer saber? Eu sou feliz assim.
Hoje, eu diria pra psicóloga que me "diagnosticou" criança que SIM, é isso que eu quero pra mim e é evidente que é assim que eu quero continuar...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sagrado

(Imagem: Hugo de Lima)

... No inverno te proteger
No verão sair pra pescar

No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado...
(Beto Guedes)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Vício

Ler há muito deixou de ser um lazer e passou a ser mais que uma necessidade. De fato, para mim, ler é um vício desses que não se tem vontade de deixar.
Minto. Às vezes reclamo desse vício, especialmente quando passo parte das noites em claro, devorando o livro para que acabe logo. E depois do fim vem a ressaca: momentos divididos entre a alegria de chegar ao final da história e a tristeza de quem perde um amigo querido.
Ler me tornou curiosa, sedenta. Ler me tornou, ora autora, ora personagem das histórias que li e das que ainda não estão no papel.


(Imagem: Frederick Leighton)


“Ela deixou cair o livro.
Ajoelhou-se.
A roubadora de livros uivou.
Seu livro foi pisoteado várias vezes quando começaram a limpeza e, embora tivesse havido ordens de que se limpasse apenas a confusão de concreto, o objeto mais precioso da menina foi jogado num caminhão de lixo, e foi nesse ponto quer me senti obrigada. Subi na caçamba e peguei com minha mão, sem me dar conta de que o guardaria e olharia milhares de vezes, ao longo dos anos. Observaria os lugares em que nos cruzássemos e me deslumbraria com o que a menina viu e a maneira como sobreviveu. Isso é o melhor que posso fazer – ver aquilo se encaixar em tudo o mais de que fui espectadora naqueles tempos.
Quando me lembro dela, vejo uma longa lista de cores, mas são as tre em que a vi em carne e osso que tem mais ressonância. Vez ou outra, consigo flutuar muito acima daqueles três momentos. Fico suspensa, até que uma verdade séptica sangra para a realidade.”(“ A menina que roubava livros “de Markus Zusak)

Por esses dias, depois de me aventurar pelos campos de Auschwitz com “O menino do pijama listrado”, resolvi não mudar de ares e permaneci na Alemanha Nazista da década de 1940 e me coloco ao lado daquela que pretende mostrar as dores desse período através de sua “carreira ilustre” como roubadora de livros. Qualquer semelhança é mera coincidência.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Fim da semana

Frases que fizeram a semana valer a pena (fora da ordem de importância):
  • "Ela te adorou, Van!" da Tia Mi.

  • "Mta saudade de vc 'doida'...Seu Zézinho continua um fofo... Nossa! Tem um povo tão idiota na van... Credo, você não sabe a falta que faz. Eu só durmo agora, tanto na ida quanto na volta!!!" da Jaci (companheira de idas e vindas da Faculdade).

  • "Ei, Pandinha, eu te amo muito, muito, muito. Carpe Diem." do amor meu.

  • "Tô óóóótima!" e "Cê tá bem, Preta?! A tia precisa te trazer o outro livro" da Tia Magda(lena...rs...).


- Alô?
Uma voz infantil atende o telefone. Eu estranho.
- Quem é? - pergunto.
- É o Uriel.
- Oi, Uri. É a Vanessa.
- Oooi, tiiiiiaaa... - ele responde empolgado.

E eu? Depois de mais de 5 anos, ainda quase choro.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pra não perder o costume


Ao som da Bossa a menina dança.
Pés descalços pra não perder o costume.
Rodopia, rodopia... Até ficar tonta...
Mas não para. Agora, balança o corpo de um lado pro outro.
A música penetra seu corpo como um amante. Penetra-lhe a alma...
A menina já não é mais menina no corpo, mas não perde a “meninez” da alma...
Encanta-se com o mundo em movimento, faz dele seu quintal...
Brinca. Fuça. Descobre. Encanta-se.
Percebe que todos os seus dias nascem como se o mundo se fizesse novo a cada abrir de olhos.
Mas ela se encanta com a mesma música, os mesmos passos e a mesma emoção...
A menina samba...
Vestido comprido, cabelo amarrado e seu amor do lado...
A menina dança enquanto cria histórias. Histórias que se tornam suas próprias canções, seus próprios livros.
Ela as dança. Ela as movimenta. Ela as faz oração...
Ela saúda e brinda a vida de sempre com o encantamento dos olhos que se abrem para o seu mundo novo de todas as manhãs...
Ao som da Bossa a menina vive.
Olhos encantados... pra não perder o costume.
(Imagem: Guilherme LC/SPMetrópole)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Saúde


"Me cansei de lero-lero / Dá licença mas eu vou sair do sério / Quero mais saúde / Me cansei de escutar opiniões / De como ter um mundo melhor / Mas ninguém sai de cima / Nesse chove-não-molha / Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim...

Como vai? Tudo bem! / Apesar, contudo, todavia, mas, porém /As águas vão rolar / Não vou chorar / Se por acaso morrer do coração é sinal que amei demais / Mas enquanto estou viva / Cheia de graça / Talvez ainda faça um monte de gente feliz!"

(Saúde - Rita Lee)
(Imagem: Ali A. Alsaffar)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aprendendo

Num desses momentos em que a gente para pra pensar na vida, me dei conta de que nos últimos tempos, mais precisamente nos últimos 3 ou 4 meses, eu aprendi muito, mas muito mesmo. Não me gabando e querendo dizer que sei muito, mas me colocando na posição de eterna aprendiz mesmo. E, hoje, somente hoje, depois de tanta coisa aprendida e "apreendida" é que percebo quanta coisa poderia ter sido vivida de uma maneira diferente.Não que eu mudaria muita coisa do que fiz ou deixei de fazer, mas acredito que as situações poderiam ter sido encaradas de uma maneira bem diferente: mais serena, mais centrada, mais calma, até... Mas como não se pode mudar o que passou, fica, inevitavel e felizmente, o aprendizado... e o quanto ele pode mudar a sua forma de ver e encarar a vida...
  • Aprendi que a vida nem sempre é do jeito que a gente quer ou planeja, mas a gente não precisa sempre fazer o que não quer ou o que não deseja...

  • Aprendi que as pessoas nos magoam, nos ferem, nos julgam mas que nem sempre é preciso magoá-las, ferí-las e julgá-las também.

  • Aprendi a confiar nos meus instintos.

  • Aprendi a confiar nas minhas convicções. Uma delas,por exemplo, é a de que o mundo é muito pequeno e que ela dá voltas e mais voltas, mas quase sempre para no mesmo lugar...

  • Aprendi como é difícil mudar a maneira como você escreveu durante anos (odeio essa reforma ortográfica ....) e com isso percebi o quão difícil é mudar qualquer coisa com a qual estamos acostumados.

  • Aprendi que minha mãe não é nem melhor nem pior do que eu a pintava mas que entendi que ela teve e tem a vida dela e eu tenho que construir a minha...

  • Aprendi que meu pai não é tão "durão" quanto eu pensei que era. Que o muro que nos separa daqueles que amamos cai quando menos esperamos...

  • Aprendi que não é tão difícil contar nossos segredos, torná-los públicos...

  • Aprendi que, SIM, eu tenho poderes que não imaginava que tinha...

  • Aprendi que, SIM, eu posso escolher o que eu quero "ser quando crescer"...

  • Aprendi que, SIM, eu posso escolher o que eu NÃO quero "ser quando crescer"...

  • Aprendi que ninguém pode me magoar se eu não permitir...

  • Aprendi que tenho direitos, principalmente os de ficar brava, de falar o que penso e de exigir mudanças...

  • Aprendi que amor é amor, não se pode fugir dele...

  • Aprendi que não há nada mais bonito, natural e gratificante do que amar e ser amada...

  • Aprendi que não existe nada melhor do que fazer o bem...

  • Aprendi que o que eu buscava não poderia estar onde eu procurava. O que eu buscava está e sempre esteve dentro de mim...

  • Aprendi que não importa o quanto se deseje que alguém mude, algumas pessoas simplesmente não mudam e que o remédio é nos acustumarmos a suas atitudes ou ignorá-las...

  • E aprendi, considerando esse o meu maior aprendizado, que não há como ser feliz se eu não me fizer feliz.

(Imagem: Mauro Taraborelli)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

De mim para mim mesma...

Chiquitita, tell me what's wrong
You're enchained by your own sorrow
In your eyes there is no hope for tomorrow
How I hate to see you like this
There is no way you can deny it
I can see that you're oh so sad, so quiet
Chiquitita, tell me the truth
I'm a shoulder you can cry on
Your best friend,
I'm the one you must rely on
You were always sure of yourself
Now I see you've broken a feather
I hope we can patch it up together

Chiquitita, you and I know
How the heartaches come and they go and the scars they're leaving
You'll be dancing once again and the pain will end
You will have no time for grieving
Chiquitita, you and I cry
But the sun is still in the sky and shining above you
Let me hear you sing once more like you did before
Sing a new song, Chiquitita
Try once more like you did before
Sing a new song, Chiquitita...

(...)

Chiquitita - ABBA

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Introspecção


"Não digo nada sobre céu e inferno, punição e recompensa. Digo apenas que continue morrendo para o passado para que ele não pese sobre sua cabeça.
E não viva no futuro, que ainda não aconteceu.
Concentre toda a sua energia no aqui e agora. Despeje-a sobre este momento, completamente, com a maior intensidade possível.
E neste momento você sentirá a vida".

Osho

terça-feira, 19 de maio de 2009

Ela e Ele


Quando acordava, pela manhã, abria costumeiramente a janela do quarto. E lá estava ele. Em determinadas épocas do ano quase cinza de tão seco e, em outras, amarelo como o sol. Cinza ou amarelo, ele tinha a sua beleza. Era a “sua” paisagem de todos os dias. E ela se sentia feliz por ele estar ali, todos os dias, imóvel, estático, pronto para ela sempre que ela precisasse. Ele era sua testemunha de sempre. Todos os amores, todas as dores, todos os devaneios, os sonhos, todas as vitórias.
Ela cresceu muito. Ele, porém, continuou do mesmo tamanho.
Um dia, ela começou a ficar triste, muito triste. Ele percebia. Perdia seu encanto dia após dia. Ela parou de olhar para ele. Isso porque ela não tinha mais tempo pra ele. Ela cresceu muito.
Até que depois de algum tempo, ela ficou tão triste que ficou doente. O quarto passara a ser o lugar mais tolerável da casa. Ela não queria mais olhar pra nada. Ela não conseguia enxergar nada. Até que o vento soprou forte na janela do quarto dela. E ela já ia fechá-la quando ele balançou mais forte que o habitual. Ela o percebeu. Ele a afetara novamente. Ela viu graça nele novamente. Agora, ela tinha tempo pra ficar olhando pra ele. Era tempo o que ela precisava. E era o olhar dela que devolvia a ele o seu encanto. Com o olhar da menina, a cada dia ele ganhava mais cor, mais sentido, mais vida. Ela também.
(Imagem: Baixaki)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Proteção



Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruimDeus me governe e guarde ilumine e zele assim
Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer

(Chico César - Deus me proteja)

(Imagem: Caminho de Santiago)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Preocupar-se



Há apenas duas coisas com que se preocupar: se você está bem ou se está doente. Se você está bem, não há nada com que se preocupar. Se você está doente, há duas coisas com que se preocupar: Se você vai ficar bem ou se vai morrer. Se você vai ficar bem, não há nada com que se preocupar. Se você vai morrer, há duas coisas com que se preocupar: se você vai pro céu ou se vai pro inferno. Se você vai pro céu, não há nada com que se preocupar. E se você vai pro inferno estará tão ocupado cumprimentando os velhos amigos, que nem terá tempo de se preocupar. Então, pra que se preocupar?!

(Alfred E. Newman - Revista Mad)

"Desenha um carneiro pra mim?"

(Imagem: Antoine de Saint-Exupéry)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Enfim...



Depois de muito relutar, dou por inaugurado esse blog.

Mais do que qualquer outra coisa, ele também será uma ferramenta terapêutica pra mim já que está se iniciando num momento não tão bom da minha vida.O espaço é para expôr idéias, pensamentos, histórias, aprendizados...

Qualquer manifestação (positiva ou não) com relação ao que escrevo é bem vinda. Sinta-se a vontade ("Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser").

Sorte!
(Imagem: Antoine de Saint-Exupéry em 'O Pequeno Príncipe')