terça-feira, 25 de agosto de 2009

Saudade é o amor que fica...

(Imagem: Arquivo Pessoal)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O menino da Febem

“O menino acabara de chegar na Febem, dentro de um camburão. Depois de um susto, uma senhora se aproximou dele. Pela primeira vez na vida um adulto colocava a mão no joelho daquela criança e pedia licença pra falar com ela. Na Febem, isso não acontecia. Logo, o menino pensou: ‘Ih, essa mulher quer me bater’. Mas ela disse, com sotaque carregado: ‘Eu gostarrrria de falarrrr com você’.

Ele ficou paralisado e disse que morria de pena, pois ela falava tudo errado, certamente tinha língua presa. Ela riu e disse que, onde morava, todos falavam assim. Imediatamente o menino retrucou: ‘Ah, sei, como os leprosos!’ E ela disse que não, que morava do outro lado do planeta, que a terra era redonda, que enquanto aqui era de dia, lá na França era noite.


O menino pensou que ela era doida mesmo e fugiu. Três dias depois se reencontraram em uma rua em Belo Horizonte. Ela gritava: ‘Robertô, Robertô!’E ele pensou: ‘Meu Deus, lá vem a doida francesa’. Mas viu que ela tinha um relógio de ouro e decidiu assaltá-la. Mas ela pediu que ele ficasse em uma semana em sua casa, pois ela precisava gravar uma entrevista.


Imediatamente o menino pensou que poderia roubar outras coisas: videocassete, televisão e dinheiro. E começou a aprender francês, enquanto ensinava para ela a língua dos meninos de rua, algo assim como a ‘língua do pê’. Pela primeira vez, alguém pedia que o menino, que tinha treze anos, ensinasse algo. As conversas eram mais ou menos assim: Ela dizia ‘vopêcêpê espêtápê bempê’? E ele respondia: ‘Oui, madamme!’


Os dias foram passando e ele decidiu que só roubaria a televisão e o dinheiro. Depois, só o dinheiro. E ela, que era casada e voltaria à França em uma semana, ia se esquecendo da viagem de volta. Marguerite - esse era seu nome - renovou o visto de permanência no Brasil por duas vezes e, um ano depois de encontrar o menino, ela conseguiu sua guarda oficialmente. E alguns anos depois, o menino irrecuperável que chegava à Febem se transformou em um professor. Este menino sou eu”.

"O Contador de histórias"

(Imagem: Site Oficial do fime O contador de histórias)

Depois da sequência de filmes brasileiros que narraram as histórias de meninos excluídos da sociedade que, após serem marginalizados, desassistidos e muitas vezes mortos como em “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Ônibus 174” um filme simples e ao mesmo tempo tão rico salta aos olhos de brasileiros sedentos de bons filmes nacionais.
Semana passada, discutindo sobre meu Trabalho de Conclusão de Curso com uma amiga querida, cheguei a um nome comum carregado por um homem nada comum. Me apaixonei pela história desse homem capaz de tornar suas histórias em contos e de tanto contar histórias percebeu que uma maior precisava ser contada: sua própria história. Descobri nessa mesma semana, que um filme sobre essa história iria chegar às telonas em breve.
Roberto Carlos Ramos é uma exceção nas estatísticas brasileiras. É Pedagogo, Mestre em Educação pela Unicamp, Pós-Graduado em Literatura Infantil pela PUC-MG, membro da Associação Internacional dos Contadores de Histórias e Valorizadores da Expressão Oral Mundial, sediada em Marselha (França). Em 2001 foi eleito um dos dez maiores contadores de histórias da atualidade num congresso em Seattle, nos Estados Unidos. Em contraponto a tudo isso, viveu dos 6 aos 13 anos de idade longe da família e na Febem. Já usou drogas e roubou. Teve 132 fugas registradas no seu prontuário e foi considerado "um caso irrecuperável". Roberto foi “salvo” pelo amor de uma francesa que acreditou que era possível fazer mais por ele do que o “sistema” previa.
“O contador de histórias” estreou nacionalmente no último dia 7. Você pode ler mais sobre o filme aqui.



P.S: Quem me “apresentou” essa figura foi a Emelin, psicanalista, terapeuta holística, meio minha tia (apesar de odiar ser chamada assim...rs...), minha professora de Tai Chi Chuan, quase uma entidade mesmo sendo escorpiana, enfim, uma figura que merece uma postagem à parte tamanha quantidade de atributos que poderia usar para descrevê-la. Namastê, "Mestra"!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ela


(Imagem: George De la Tour, Maria Madalena, 1638)

Jerusalém
Setembro de 1997

"Quando a massa em movimento chegou mais perto, ela viu a mulher pela primeira vez. Uma ilha solitária e serena no meio do caos, era uma das poucas mulheres na multidão... mas não era isso que a tornava tão diferente. Era o seu comportamento, uma atitude imponente, que a distinguia como uma rainha, apesar da camada de poeira que cobria-lhe as mãos e os pés. Estava um pouco desgrenhada, os cabelos castanho-avermelhados lustrosos presos parcialmente por baixo do véu escarlate, que cobria metade do rosto. (...)

Ficou impressionada com a beleza angustiada de seu rosto. Tinha feições delicadas e refinadas. Mas foram os olhos que continuaram a assediá-la muito depois que a visão acabou. Eram olhos enormes e brilhantes, com lágrimas não derramadas, em algum ponto no espectro de cores entre o âmbar e o verde, com uma luminosidade castanho-clara extraordinária que refletia uma infinita sabedoria e uma tristeza insuportável, numa mistura comovente. (...)

Ficou em transe, paralisada, enquanto a mulher a fitava. O momento foi rompido quando a mulher baixou os olhos para a menina que puxava pela mão, com urgência. A criança também fitou-a, com aqueles enormes olhos claros que herdara da mãe. Por trás dela havia um menino, mais velho e com olhos mais escuros que os da menina, mas obviamente filho daquela mulher(...)

(...) Ela e o homenzinho contornaram uma esquina e pararam na frente de uma quadro, um retrato grande e antigo de uma mulher. O tempo, o incenso e séculos de resíduos de velas oleosas haviam impresso seu tributo sobre a obra de arte. Para ver melhor, ela teve de chegar mais perto do quadro escuro, os olhos contraídos. (...) Olhou atentamente para o quadro, um retrato antigo de uma mulher usando um manto vermelho. (...) Ao se inclinar em sua direção, verificou que a mulher usava um anel na mão direita, um disco de cobre redondo, com um padrão de nove círculos em torno de uma esfera central. Ela levantou a mão direita, a fim de comparar o anel que acabara de ganhar com o que aparecia no quadro. Os anéis eram idênticos." ( "O segredo do anel" - Kathleen McGowan)

Leitura mais que recomendada, especialmente aos que se interessam por história, sociedades secretas e o sagrado feminino. Ou para quem pelo menos gosta de uma boa história cercada de mistérios e simbologia. Um presente a leitura desse livro (que devorei em poucos dias e ele tem muitas páginas) com indicação muito mais que especial da tia Magda (que não por acaso tem esse nome...).

P.S: Magda: nome de origem inglesa. Variação ou diminutivo de Magdalena.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Histórias que eles contam...

- E aí, Nanda, você vai se casar?
- Não vou me casar. Eu vou ter um Pastor Alemão.
- Ah...Tá bom... (!?)

*Nanda é a Maria Fernanda, 9 anos, minha prima, fã do Harry Potter ("Dumbledore tem estilo!"), escritora, a criativa de plantão e moradora de um planeta que é só dela.

Evidências


(Imagem: Arquivo Pessoal)

"Olha a maneira como você se senta. Observe suas mãos, suas roupas. Olha a a maneira como você se senta... Você é uma menina, uma criança. É isso que você quer pra você? É assim que você quer continuar? Você não cresceu..."

A vontade era de dizer sim. Mas eu apenas sorri. Sorri porque na verdade não sabia o que dizer... Nunca fui fã de psicólogas (no feminino porque só me consultei com mulheres até então). Só conheço uma psicóloga que confio e com essa não posso me consultar. Não bastasse a psicóloga, a cabeleireira da minha mãe ri da minha cara quando disse que tinha 22: "Pare com isso, menina. Eu te 'dava' 15 ou 16. Que carinha de bebê!". Sorri novamente e consegui esboçar um "Que bom!". Minha mãe sempre me diz que não cresci, que ainda sou o bebê dela. Mas mãe não conta e eu nunca liguei: como sempre, ela tem razão.
Às vezes acho um pouco de exagero, mas não tiro a razão de quem me chama de menina.

Nas festas familiares sempre me pego no meio das crianças, que quase sempre são meus primos. Prefiros seus "papos", suas brincadeiras, sua maneira de se divertir. Adoro ouvir suas histórias, suas dicas de filmes e livros, suas descobertas narradas por olhos de cortinas recém-abertas para o espetáculo que é a vida.

Adoro Yakult, Bala-chiclete e danoninho. Eu ainda tenho ursos de pelúcia que amo no quarto (todos devidamente batizados com nomes decentes). Eu adoro livros infantis. Sou fã de Peter Pan & Wendy e d'O Pequeno Príncipe. Aprendi a amar os livros de Harry Potter.

Quer saber? Eu sou feliz assim.
Hoje, eu diria pra psicóloga que me "diagnosticou" criança que SIM, é isso que eu quero pra mim e é evidente que é assim que eu quero continuar...