terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Canção pra mim...


(Foto: Bons Fluidos)

Hoje, que Renato grite, por mim, a canção presa nas amarras da minha garganta.

Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está disperso
É sereno o nosso amor
E santo este lugar

Nos tempos de tristeza
Tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar
Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor. É hora de acordar
Tenho anis, tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção

Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração
Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo e depois renunciar
Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado

Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir
Tenho jasmim, tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã

Ninguém vai me dizer o que sentir
Eu, eu vou cantar uma canção pra mim

(Soul Parcifal - Legião Urbana)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Porque descrever-se é limitar-se...




Ama sentir, tocar, educar, pegar, ler, escrever, bailar, tecer, ser... e deixar-te ser, também.


Quer o oriente e o ocidente. O masculino e o feminino. O certo e o errado. O bem e o mal. A verdade e a mentira.

Às vezes rosa vermelha, às vezes lírio, às vezes cacto.

Às vezes mulher, quase sempre menina.

Às vezes amarga, quase sempre doce.

Às vezes toca flauta, quase sempre prefere um tambor.

Às vezes suas cores são de Almodovar, às vezes de Frida Kahlo, às vezes são apenas cores.

Ás vezes quer voar, às vezes implora por voltar ao chão.

Às vezes semeia a paz, mas gosta mesmo é das consequências do caos.

Às vezes parece que tem 5, algumas vezes 60.

Às vezes fala inglês, quase sempre português, outras vezes nem ela sabe o quê.

Às vezes quer ser uma coisa, quase sempre procura ser outra. E não se cansa de procurar.

Às vezes é isso... mas quase sempre é aquilo mesmo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

É cega ou não quer ver?




Eles não reproduzem discursos abstratos, mas plásticos, ricos em metáforas. Não moldam conceitos, contam os fatos. Foi o senhor que nos fez entender que ninguém é mais culto do que o outro por ter freqüentado a universidade ou apreciar as pinturas de Van Gogh e a música de Bach. O que existe são culturas paralelas, distintas e socialmente complementares. (...) O pobre sabe, mas nem sempre sabe que sabe. E quando aprende é capaz de expressões como esta que ouvi da boca de um senhor, alfabetizado aos 68 anos: 'Agora sei quanta coisa não sei'. (...) O senhor fez os pobres conquistarem auto-estima. Graças ao seu método de alfabetização, eles aprenderam que 'Ivo viu a uva' e que a uva que Ivo viu e não comprou é cara porque o país não dispõe de política agrícola adequada e nem permite que todos tenham acesso à alimentação básica. (...)

(Carta de Frei Betto a Paulo Freire)