terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não sei


"Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas." (Cora Coralina)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dando nomes aos bois

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa


era a imagem de um vidro mole que fazia uma curva atrás da casa.

Passou um homem e disse:

Essa volta que o rio faz por trás da sua casa se chama enseada.

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro

que fazia uma volta atrás da casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem.


(Manoel de Barros)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ausência

"Por muito tempo achei que ausência é falta.


E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém rouba mais de mim."
 
("O corpo" de Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sabe cair?



- Em outras palavras, você sabe montar coisa nenhuma. Isso é ponto contra. Tenho de ensinar-lhe pelo caminho. Já que não sabe montar, pelo menos sabe cair?
- Bem, todo mundo sabe cair...
- Estou dizendo o seguinte: sabe cair e montar de novo, sem chorar, e cair de novo e montar de novo sem ficar com medo de voltar a cair?
- Posso tentar... - respondeu Shasta.
- Coitado do Bichinho! - falou o cavalo num tom mais bondoso - Esqueci que você é ainda um potro. Vamos fazer de você um excelente cavaleiro (...)

("O cavalo e seu menino" in: "As crônicas de Nárnia", pág. 197, C.S. Lewis)

** A Papisa está em tempos de Trabalho de Conclusão de Curso, sem tempo para escrever algo que não seja científico. Me dói! **

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Presente


Hoje o "Tear" recebeu um presente. O primeiro, na verdade. A linda Luciana Onofre do Germinando nos presenteou com o selo "Blog de Ouro".



"O Tear da Papisa" fez um ano (e o aniversário passou batido...) e a cada dia me surpreendo mais com as formas que vem tomando.



Luciana, muito obrigada pelo carinho com esse espaço tão meu, mas escrito pra pessoas tão especiais como você.



E o meu carinho aos atuais 18 seguidores que adornam esse espaço com seus comentários!



Muito obrigada a todos!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um pequeno fato

(Imagem: Lusalivros)

Primeiro as cores,

    Depois os humanos,
    Em geral, é assim que vejo as coisas.
    Ou, pelo menos, é o que tento.



EIS UM PEQUENO FATO:
Você vai morrer.

(...)

REAÇÃO AO FATO SUPRACITADO:
Isso preocupa você?
Insisto - não tenha medo.
Sou tudo, menos injusta.

('Morte e Chocolate' em "A menina que roubava livros" de Markus Zusak - pág. 9)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Eu por ele


Meu pequeno herói está fotografando. Hoje, em meio aos seus retratos, resolveu me fotografar.
Essa semana notei que ele aprendeu a me tocar. Encosta em mim e diz que tenho um cheiro bom. Faz carinho em meus cabelos e quando indagado quanto ao motivo de tal gesto diz: "Ela riu. E eu gostei."
Simplicidade tem nome: Léo.



segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sede


“Sob cada olhar uma alma. Como encontrar o caminho que me leva até eles? Será que serei capaz de lhes dar sede? (...) E depois? Será que serei capaz de saciar essa sede?”

(Celestin Freinet)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sinônimos


"Só aprendemos nos divertindo. A arte de ensinar não é outra senão a arte de despertar a curiosidade das almas jovens para depois satisfazê-la; a curiosidade é viva apenas nas almas felizes. O conhecimento que se faz entrar na mente pela força sufoca-a. Para digerir o saber é necessário que seja devorado com apetite."

(Anatole France, escritor francês)

Inveja

"Uma minhoca viu uma serpente que dormia à sombra de uma figueira. Com inveja do seu tamanho, quis igualar-se a ela. Esticou-se tanto que terminou se despedaçando."

(Esopo. Fábulas. Porto Alegre. L e PM, 1997. Pág. 131)

terça-feira, 2 de março de 2010

Perdão

Eu o observava, curiosa, beijando a mão direita e a acariciando, quando, no alto de sua simplicidade, ele me olha e diz:

" Estou me perdoando porque mordi a minha mão quando estava muito irritado."

Fiquei sem saber o que dizer. Preferi não dizer nada e passei o dia tentando digerir: "estou me perdoando..."

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Covarde

(Arquivo Pessoal)

Primeiro a descrença. Ou seria a fé, a certeza de tudo?
Depois, vieram as necessidades: deixar tudo pago, tentar deixar tudo o que precisava ser feito por escrito e arrumar alguém para substituí-la no trabalho.

Pensou na carta. O que dizer? Era mesmo necessário escrever alguma coisa? Não pareceria muito clichê? Óbvio demais?

Agora, era a vez do método. Foi aí que ela desistiu e mais uma vez provou para si mesma o que a motivara: era covarde demais.

Desistiu. Não porque se sentiu melhor e havia encontrado uma maneira de resolver as coisas. Pelo contrário, seu desejo só havia aumentado.

Desistiu porque não era capaz.

"Incapaz, covarde!", repetia ela em frente ao espelho.

O tempo passaria e ela se conformaria.

Pensou no seu desejo de ser mãe e decidira que não teria filhos. Já os amava e desejava tanto que decidira poupá-los do mundo e principalmente de si mesma.
Covarde!

Sobre a loucura

(Imagem: Grafitti de Bansky)

"Um poderoso feiticeiro, querendo destruir um reino, colocou uma poção mágica no poço onde todos os seus habitantes bebiam. Quem tomasse aquela água, ficaria louco.

Na manhã seguinte, a população inteira bebeu, e todos enlouqueceram, menos o rei - que tinha um poço só para si e sua família, onde o feiticeiro não conseguira entrar. Preocupado, ele tentou controlar a população, baixando uma série de medidas de segurança e saúde pública. Mas os policiais e inspetores haviam bebido a água envenenada, e acharam um absurdo as decisões do rei, resolvendo não respeitá-las de jeito nenhum.

Quando os habitantes daquele reino tomaram conhecimento dos decretos, ficaram convencidos de que o soberano enlouquecera, e agora estava escrevendo coisas sem sentido. Aos gritos, foram até o castelo e exigiram que renunciasse.

Desesperado, o rei prontificou-se a deixar o trono, mas a rainha o impediu, dizendo: Vamos agora até a fonte, e beberemos também. Assim, ficaremos iguais a eles.

E assim foi feito: o rei e a rainha beberam a água da loucura, e começaram imediatamente a dizer coisas sem sentido. Na mesma hora, os seus súditos se arrependeram: agora que o rei estava mostrando tanta sabedoria, por que não deixá-lo governando o país?

O país continuou em calma, embora seus habitantes se comportassem de maneira muito diferente de seus vizinhos. E o rei pôde governar até o final dos seus dias."

("Veronika decide morrer" - Paulo Coelho, sim, eu experimentei e gostei. Paro de criticar, então.)

(es)tudo errado

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Morte





(Foto: Arquivo Pessoal - Cemitério dos Americanos, Santa Bárbara D'Oeste - SP)

Beleza

Gratidão

Reconhecimento

Identidade
Perda

Palavras distintas mas que convivem e se complementam, em harmonia, num só lugar.

Que há de errado com a morte?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Resolução

Se é pra viver, que seja tudo.
Se é pra querer, que seja mais.
Se é pra dizer, que eu grite.
E se é pra ser, que seja inteiro.

E só.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Léo

Todos os dias ele chega atrasado. Faz parte de sua rotina. Digo-lhe bom dia e ele responde com um sonoro: "Bom dia, Vanessa!". E sem que eu lhe pergunte, mas apenas lhe dirija o olhar, ele diz, com seu jeito único: "Estou bem. Está tudo bem!". Não existem dias ruins pra ele. Todo dia é bom dia. E juntos partimos para mais um dia que nunca é igual. Apesar da rotina, rígida, a que ele mesmo se submete, todo dia é muito diferente: uma descoberta nova, um gosto novo, uma poesia em frases simples. Todos os dias subimos juntos as escadas para mais um dia de missões nada secretas, batalhas reais e imaginárias, superpoderes e superação (minhas e dele).
Minha voz, pra ele, tem gosto de sonho de valsa (segundo suas próprias palavras), assim como as do Superman e do Wolverine.
A vida ao lado dele é única. Encontrá-lo foi um presente, sem dúvida. Sim, porque ao meu ver, fui eu quem o encontrei, não os pais dele. Era eu quem precisava do seu jeito fácil de ver a vida.
Léo é contradição. É sorriso raro e fácil, sem motivo que o  justifique.
Com um ano e sete meses de idade já brincava com as letras. Hoje é rotulado como "especial".
Esse ano termina o Ensino Fundamental mas, assim como eu, não expressa bem seus sentimentos se não forem escritos, colocados no papel. No papel pede silêncio aos colegas de sala, convida para ir ao cinema, revela seus desejos e sentimentos mais intimos e pede socorro. No meio da aula, "liga" para seus amigos superheróis e avisa que está doente e não poderá encontrá-los. Depois me confessa, tristonho, que queria ter sido criado por superheróis e, sorrindo, diz que adora sonho de valsa (teria isso relação com o sabor da minha voz?).
Outro dia, me pediu, em papel amassado: "Seja minha amiga. Seja minha heroína".
Ah, meu amigo Léo, meu herói de todos os dias é você!

*Léo é, há algumas semanas, meu amigo, companheiro de todas as manhãs, estudante (um dos melhores alunos de sua turma), amante dos animais, tem uma memória inigualável, escreve, desenha, cria e conta as mais loucas e belas histórias, cujo personagem principal é ele mesmo sob o codinome "Lanterna Azul". Ser portador da Síndrome de Asperger (um tipo raro de Autismo) é apenas um detalhe.

À espera

(foto: Paris14)

- Desse jeito você vai acabar numa praça, em cima do banco, tocando um bumbo..
- E você? Vai estar onde?

- Do seu lado... esperando você terminar de tocar.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cry to me - Parte II



"Well nothing can be sadder than a glass of wine, alone
Loneliness, loneliness, it's such a waiste of time... "


("Cry to me", música original de Salomon Burke interpretada lindamente por Duffy, trilha sonora do clássico dos clássicos Dirty Dancing, meu vício...)

Uma dúzia de coisas que fazem feliz...



(Imagem: luvluvluv)

Mãe fazendo macarrão, filme antigo na televisão, aprender a dizer não...
Arrumar um emprego, exercitar o desapego...
Flor recém colhida, concordar com a vida, sentir que nada te intimida...
Vinho na cama, ouvir alguém dizer que te ama...
Ver a vida diferente, curar a dor da gente...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ser rio, ser água...




Imagem: Sidney Lace

O tempo que eu perdi, só agora eu sei
aprender a dar, foi o que ganhei
e ando ainda atrás, desse tempo ter
pude não correr, e ele me encontrar

(...)

O rio fica lá, a água é que correu

chega na maré, ele vira mar
como se morrer fosse desaguar
derramar no céu, se purificar.


(Evaporar - Little Joy)

Sacudindo



Foto: Sjarrett

"Os melhores sacudidores de palavras eram os que compreendiam o verdadeiro poder delas. Eram os que conseguiam subir mais alto. Um desses sacudidores era uma menininha magricela. Ela era famosa como a melhor sacudidora de palavras de sua região, porque sabia o quanto uma pessoa podia ficar impotente sem as palavras. Por isso, ela se mostrava capaz de subir mais alto que qualquer outra pessoa. Desejava as palavras. Tinha fome de palavras."

Markus Zusak

sábado, 23 de janeiro de 2010

Fronteiras


(Imagem: Luv luv luv)

Ele a olhou com a profundidade de antes e nada disse. Ajeitou os cabelos dela atrás da orelha e respirou fundo. Era a vontade dele somada à dela.
"Antes eu queria trancar... agora quero ser trancado..."
As lágrimas escaparam dos olhos dela e rolaram para os dele. Ele, que não chorava, agora se aninhava no colo dela buscando paz entre lágrimas furtivas. Ela sabia o que aquilo significava: "Você é tão meu..." E se olharam, como se aquilo fosse a resposta para suas dores.
E perceberam que haviam ultrapassado fronteiras...
Das palavras mal-ditas ao amor declarado.
Do olhar desviado ao encontro.
Da incerteza à verdade confessa.
Do desconhecido às lágrimas inesperadas.
Da indiferença aos nomes das crianças.
Da negação aos planos compartilhados.
Do sem-rumo ao resgate.
Do conformismo ao ciúme.
Da distância às mãos enlaçadas.
Do silêncio aos segredos revelados.
Do abandono à sensação de nunca ter partido.
Do que foi evitado ao que tomou forma.
Da dor à cura prometida.
Do amor de antes ao amor de sempre.

Cry to me




- You're not scared of anything!

- Me? I'm scared of everything. I'm scared of what I saw, I'm scared of what I did, of who I am... Most of all I'm scared of walk out of this room and never feel for the rest of my whole life what I feel when I'm with you...
- ...

- Dance with me?

- Here?

- Right here!
 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Concordância




segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pouso



Ela queria aquele amor macio e estranho, sem garantias de ser para sempre.
Ela queria aquele amor de hoje.
Queria amar com liberdade, embora desejasse o desejo de pertencer.
Ela queria amar para sempre e para sempre ser amada, mas não buscava a promessa – não era ali que morava o para sempre.
Ela, que era invisível. A vida em volta continuava a mesma, mas ela sempre voltava...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Isadora



Descalça, despida, envolvida apenas pela bandeira argentina, Isadora dança o hino nacional.

Comete esta ousadia numa noite de 1916, num café de estudantes de Buenos Aires, e na manhã seguinte todo mundo sabe: o empresário rompe o contrato, as boas famílias devolvem suas entradas ao Teatro Cólon (...)
Isadora não entende nada. Nenhum francês protestou quando ela dançou a marselhesa com um xale vermelho como traje completo. Se é possível dançar uma emoção, se é possível dançar uma idéia, por que não se pode dançar um hino?
Liberdade ofende. Mulher de olhos brilhantes, Isadora é inimiga declarada da escola, do matrimônio, da dança clássica e de tudo aquilo que engaiole o vento. Ela dança porque dançando goza, e dança o que quer, quando quer e como quer, e as orquestras se calam frente à música que nasce de seu corpo.

(Adapt. Eduardo Galeano)

Em festa



Nem máquina, nem culpa. Ele, meus senhores, é uma festa, já dizia meu amigo, Galeano... Convido quem quero e festejo como bem entender...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Crianças do topo da árvore - A Resposta


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Crianças do topo da árvore



"Dentro dessa concha existe uma pérola..."

P.S.: Quem definiu os limites entre o que é normal e o que não é?

 Imagem : http://www.cyh.com/, ilustração feita por criança portadora da Síndrome de Asperger.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Conclusões

Há mais a ser dito sobre o amor do que se pode imaginar. Dizem que nada é para sempre e eu concordo plenamente. Mas há exceções como em toda regra. Não acredito que se possa amar uma única vez na vida, mas há amores que são pra vida inteira. Essa é outra exceção, mas essa é à minha regra.
Amar é sofrer, mas há amores que curam feridas. Amar é estar em estado de graça, mas não ser correspondido não chega nem perto disso. Exceções à regra também.
Só se aprende a amar amando. Só se ama de verdade quando se permite ser amado. Não há exceções a essas regras.

A Busca

Quando ele viu o remetente não pode acreditar. Olhou mais algumas vezes seguidas para certificar-se de que seus olhos não o estavam enganando. Era ela. Passou mais de meia hora admirando seu nome em estado de choque sem conseguir descobrir seu conteúdo.
Encheu-se da coragem que outrora havia perdido e abriu. Seus olhos mal podiam acreditar no que estava vendo. Era um pedido de desculpas, uma confissão e um desejo de felicidade sem ela. Ele riu, nervoso. "Felicidade sem ela?", pensou.
Um desejo absurdo invadiu seu coração. O desejo de vê-la intensificou-se. Durante todos esses anos ele quis procurá-la, mas teve medo. Continuou com sua covardia à frente de seus desejos mais profundos como naquela noite em que tentou pedir desculpas em vão. Mas era ela quem o havia procurado. Seu corpo foi tomado pela culpa. Mais uma vez ele fora surpreendido pela iniciativa alheia. Mais uma vez suas certezas foram por agua a baixo. Pela segunda vez ele era perdoado sem ter conseguido pedir desculpas por tudo o que lhe fizera sentir culpado a cada minuto de seus dias.

Buscou o telefone da casa dela na velha agenda de telefones e discou. Para sua supresa e certo alívio, quem atendeu foi a mãe dela que já não recordava a sua voz. Tantos anos, tanto tempo. Ela não estava em casa e ele resolveu deixar o seu telefone pedindo que ela ligasse não importando a hora. E que horas! O relógio parecia ter se voltado contra ele e sua revolta contra o tempo já era ridícula quanto seu telefone tocou. Ele reconheceu o número. Seu coração disparou. Do outro lado da linha, a mesma voz de sempre da menina escondida no quarto dos pais procurando coragem pra falar com aquele que também não havia mudado nada: nem a voz, nem o sorriso nervoso ao falar no telefone e muito menos seus sentimentos por ela. Mas ela ainda não sabia disso e ele achava que poderia passar por cima disso. Na conversa de pouco mais de um minuto, marcaram de se encontrar no dia seguinte para que tudo fosse dito pessoalmente. Ele não dormiu naquela noite. Ela até dormiu, mas teve sonhos que há algum tempo não tinha e acordou sorrindo...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Pelo começo ou pelo fim?



Uma palavra baixa, um palavrão e uma tentativa de resposta em vão. Ela sabia porque a dissera e ele sabia bem porque a ouvira.


As últimas palavras proferidas por ela ressoariam nos ouvidos dele por longos anos e ficariam atormentando-a pelo mesmo período. Mesmo depois dos novos "amores", da nova vida e do novo rumo traçado pelo destino de cada um. Ainda assim as marcas daqueles poucos segundos permaneceriam insolúveis no peito de ambos.

A raiva, a dor e a incerteza de um misturando-se à impotência, o medo e a fraqueza do outro. Tudo isso colaborara para aquele suposto final. Mas não houve final. Nem um dos dois teve a coragem de dizer que era o fim.


Ficaram as palavras e elas falaram pelo calor do momento. Não houve acordo, não houve choro, nem briga. Foram apenas as palavras mal-ditas e o gosto amargo-doce de amor e ódio que marcaram a data, a hora e o local para sempre.

Ele ficou. Foi ela quem entrou no carro e se foi, não desejando mais voltar. Pelo menos não naquele momento.

Inquieta

A princípio, eles pisotearam a grama de nosso jardim e roubaram-nos as flores.
Nós não dissemos nada.

Logo, sem que percebessemos, invadiram nossas casas, sentaram-se à mesa e tomaram nosso café.
E, mais uma vez, nós não dissemos nada.

Quando menos esperávamos, eles roubaram nossos filhos e fizeram o que quiseram com nossos rebentos... E porque nunca havíamos dito nada antes, não pudemos dizer nada agora.



(Botticelli)

P.S.: Um feliz 2010 cheio de inquietação e vazio de comodidade para cada um de nós...