quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Covarde

(Arquivo Pessoal)

Primeiro a descrença. Ou seria a fé, a certeza de tudo?
Depois, vieram as necessidades: deixar tudo pago, tentar deixar tudo o que precisava ser feito por escrito e arrumar alguém para substituí-la no trabalho.

Pensou na carta. O que dizer? Era mesmo necessário escrever alguma coisa? Não pareceria muito clichê? Óbvio demais?

Agora, era a vez do método. Foi aí que ela desistiu e mais uma vez provou para si mesma o que a motivara: era covarde demais.

Desistiu. Não porque se sentiu melhor e havia encontrado uma maneira de resolver as coisas. Pelo contrário, seu desejo só havia aumentado.

Desistiu porque não era capaz.

"Incapaz, covarde!", repetia ela em frente ao espelho.

O tempo passaria e ela se conformaria.

Pensou no seu desejo de ser mãe e decidira que não teria filhos. Já os amava e desejava tanto que decidira poupá-los do mundo e principalmente de si mesma.
Covarde!

Sobre a loucura

(Imagem: Grafitti de Bansky)

"Um poderoso feiticeiro, querendo destruir um reino, colocou uma poção mágica no poço onde todos os seus habitantes bebiam. Quem tomasse aquela água, ficaria louco.

Na manhã seguinte, a população inteira bebeu, e todos enlouqueceram, menos o rei - que tinha um poço só para si e sua família, onde o feiticeiro não conseguira entrar. Preocupado, ele tentou controlar a população, baixando uma série de medidas de segurança e saúde pública. Mas os policiais e inspetores haviam bebido a água envenenada, e acharam um absurdo as decisões do rei, resolvendo não respeitá-las de jeito nenhum.

Quando os habitantes daquele reino tomaram conhecimento dos decretos, ficaram convencidos de que o soberano enlouquecera, e agora estava escrevendo coisas sem sentido. Aos gritos, foram até o castelo e exigiram que renunciasse.

Desesperado, o rei prontificou-se a deixar o trono, mas a rainha o impediu, dizendo: Vamos agora até a fonte, e beberemos também. Assim, ficaremos iguais a eles.

E assim foi feito: o rei e a rainha beberam a água da loucura, e começaram imediatamente a dizer coisas sem sentido. Na mesma hora, os seus súditos se arrependeram: agora que o rei estava mostrando tanta sabedoria, por que não deixá-lo governando o país?

O país continuou em calma, embora seus habitantes se comportassem de maneira muito diferente de seus vizinhos. E o rei pôde governar até o final dos seus dias."

("Veronika decide morrer" - Paulo Coelho, sim, eu experimentei e gostei. Paro de criticar, então.)

(es)tudo errado

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Morte





(Foto: Arquivo Pessoal - Cemitério dos Americanos, Santa Bárbara D'Oeste - SP)

Beleza

Gratidão

Reconhecimento

Identidade
Perda

Palavras distintas mas que convivem e se complementam, em harmonia, num só lugar.

Que há de errado com a morte?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Resolução

Se é pra viver, que seja tudo.
Se é pra querer, que seja mais.
Se é pra dizer, que eu grite.
E se é pra ser, que seja inteiro.

E só.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Léo

Todos os dias ele chega atrasado. Faz parte de sua rotina. Digo-lhe bom dia e ele responde com um sonoro: "Bom dia, Vanessa!". E sem que eu lhe pergunte, mas apenas lhe dirija o olhar, ele diz, com seu jeito único: "Estou bem. Está tudo bem!". Não existem dias ruins pra ele. Todo dia é bom dia. E juntos partimos para mais um dia que nunca é igual. Apesar da rotina, rígida, a que ele mesmo se submete, todo dia é muito diferente: uma descoberta nova, um gosto novo, uma poesia em frases simples. Todos os dias subimos juntos as escadas para mais um dia de missões nada secretas, batalhas reais e imaginárias, superpoderes e superação (minhas e dele).
Minha voz, pra ele, tem gosto de sonho de valsa (segundo suas próprias palavras), assim como as do Superman e do Wolverine.
A vida ao lado dele é única. Encontrá-lo foi um presente, sem dúvida. Sim, porque ao meu ver, fui eu quem o encontrei, não os pais dele. Era eu quem precisava do seu jeito fácil de ver a vida.
Léo é contradição. É sorriso raro e fácil, sem motivo que o  justifique.
Com um ano e sete meses de idade já brincava com as letras. Hoje é rotulado como "especial".
Esse ano termina o Ensino Fundamental mas, assim como eu, não expressa bem seus sentimentos se não forem escritos, colocados no papel. No papel pede silêncio aos colegas de sala, convida para ir ao cinema, revela seus desejos e sentimentos mais intimos e pede socorro. No meio da aula, "liga" para seus amigos superheróis e avisa que está doente e não poderá encontrá-los. Depois me confessa, tristonho, que queria ter sido criado por superheróis e, sorrindo, diz que adora sonho de valsa (teria isso relação com o sabor da minha voz?).
Outro dia, me pediu, em papel amassado: "Seja minha amiga. Seja minha heroína".
Ah, meu amigo Léo, meu herói de todos os dias é você!

*Léo é, há algumas semanas, meu amigo, companheiro de todas as manhãs, estudante (um dos melhores alunos de sua turma), amante dos animais, tem uma memória inigualável, escreve, desenha, cria e conta as mais loucas e belas histórias, cujo personagem principal é ele mesmo sob o codinome "Lanterna Azul". Ser portador da Síndrome de Asperger (um tipo raro de Autismo) é apenas um detalhe.

À espera

(foto: Paris14)

- Desse jeito você vai acabar numa praça, em cima do banco, tocando um bumbo..
- E você? Vai estar onde?

- Do seu lado... esperando você terminar de tocar.