segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dando nomes aos bois

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa


era a imagem de um vidro mole que fazia uma curva atrás da casa.

Passou um homem e disse:

Essa volta que o rio faz por trás da sua casa se chama enseada.

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro

que fazia uma volta atrás da casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem.


(Manoel de Barros)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ausência

"Por muito tempo achei que ausência é falta.


E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém rouba mais de mim."
 
("O corpo" de Carlos Drummond de Andrade)