terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Léo

Todos os dias ele chega atrasado. Faz parte de sua rotina. Digo-lhe bom dia e ele responde com um sonoro: "Bom dia, Vanessa!". E sem que eu lhe pergunte, mas apenas lhe dirija o olhar, ele diz, com seu jeito único: "Estou bem. Está tudo bem!". Não existem dias ruins pra ele. Todo dia é bom dia. E juntos partimos para mais um dia que nunca é igual. Apesar da rotina, rígida, a que ele mesmo se submete, todo dia é muito diferente: uma descoberta nova, um gosto novo, uma poesia em frases simples. Todos os dias subimos juntos as escadas para mais um dia de missões nada secretas, batalhas reais e imaginárias, superpoderes e superação (minhas e dele).
Minha voz, pra ele, tem gosto de sonho de valsa (segundo suas próprias palavras), assim como as do Superman e do Wolverine.
A vida ao lado dele é única. Encontrá-lo foi um presente, sem dúvida. Sim, porque ao meu ver, fui eu quem o encontrei, não os pais dele. Era eu quem precisava do seu jeito fácil de ver a vida.
Léo é contradição. É sorriso raro e fácil, sem motivo que o  justifique.
Com um ano e sete meses de idade já brincava com as letras. Hoje é rotulado como "especial".
Esse ano termina o Ensino Fundamental mas, assim como eu, não expressa bem seus sentimentos se não forem escritos, colocados no papel. No papel pede silêncio aos colegas de sala, convida para ir ao cinema, revela seus desejos e sentimentos mais intimos e pede socorro. No meio da aula, "liga" para seus amigos superheróis e avisa que está doente e não poderá encontrá-los. Depois me confessa, tristonho, que queria ter sido criado por superheróis e, sorrindo, diz que adora sonho de valsa (teria isso relação com o sabor da minha voz?).
Outro dia, me pediu, em papel amassado: "Seja minha amiga. Seja minha heroína".
Ah, meu amigo Léo, meu herói de todos os dias é você!

*Léo é, há algumas semanas, meu amigo, companheiro de todas as manhãs, estudante (um dos melhores alunos de sua turma), amante dos animais, tem uma memória inigualável, escreve, desenha, cria e conta as mais loucas e belas histórias, cujo personagem principal é ele mesmo sob o codinome "Lanterna Azul". Ser portador da Síndrome de Asperger (um tipo raro de Autismo) é apenas um detalhe.

5 comentários:

Isa disse...

O teu blogue está a cada dia mais interessante. Parabéns!

Bjs

Isa

P.S: Esse amigo Léo inspirou-te, a tua escrita está cada vez melhor.

Priscila Rôde disse...

Teu amigo Léo é especial assim como o que você escreveu. Amei!

Larissa Guiroto disse...

Van, parabéns pelo lindo trabalho!!
Vocês são especiais! =)


Beijo

Razek Seravhat disse...

Entendo o Léo, no entanto discordo dele e do sentimento que tato nutre. Entre os seres humanos é inevitável a inexistência de um sentimento tão nobre como a amizade. Este fica para os metâmeros, os plasmodium ou talvez com os cachorros que ainda não se deixaram contaminar com a convivência humana.
ternura sempre...

Unknown disse...

"Não era o habitat deles, mais ali estavam eles"

"Adam" uma rapaz que passou toda sua vida recluso em seu próprio mundo. Lindo filme você deve assistir. Ja imagino o léo só de ver você falar...fico feliz e orgulhosa de você! Você merece!

beijo e de fato você esta escrevendo cada vez melhor...