Meu coração está disperso
Nos tempos de tristeza
Eu tenho desejo e um coração
Sim, eu ando com uma caneca de plástico verde na bolsa. Na faculdade isso é muito comum. Quando adotei a minha, eu me achava "a" estranha fora da faculdade quando todos ficavam me olhando como se eu fosse um alienígena portando uma caneca de plástico. E verde. Não que isso não tenha mudado, mas agora quem mudou foi eu. Não acho estranho. As pessoas é que acham. Para mim, é mais que normal: é necessário.
Gosto de saber que cada copo descartável que eu não uso contribui e muito para o meu futuro, para o futuro dos meus futuros filhos e para o de tantas outras criaturas (cada copo descartável leva aproximadamente 4 séculos para de desintegrar).
Atitude simples, benefício enorme.
(Imagem: Frederick Leighton)
“Ela deixou cair o livro.
Ajoelhou-se.
A roubadora de livros uivou.
Seu livro foi pisoteado várias vezes quando começaram a limpeza e, embora tivesse havido ordens de que se limpasse apenas a confusão de concreto, o objeto mais precioso da menina foi jogado num caminhão de lixo, e foi nesse ponto quer me senti obrigada. Subi na caçamba e peguei com minha mão, sem me dar conta de que o guardaria e olharia milhares de vezes, ao longo dos anos. Observaria os lugares em que nos cruzássemos e me deslumbraria com o que a menina viu e a maneira como sobreviveu. Isso é o melhor que posso fazer – ver aquilo se encaixar em tudo o mais de que fui espectadora naqueles tempos.
Quando me lembro dela, vejo uma longa lista de cores, mas são as tre em que a vi em carne e osso que tem mais ressonância. Vez ou outra, consigo flutuar muito acima daqueles três momentos. Fico suspensa, até que uma verdade séptica sangra para a realidade.”(“ A menina que roubava livros “de Markus Zusak)
Por esses dias, depois de me aventurar pelos campos de Auschwitz com “O menino do pijama listrado”, resolvi não mudar de ares e permaneci na Alemanha Nazista da década de 1940 e me coloco ao lado daquela que pretende mostrar as dores desse período através de sua “carreira ilustre” como roubadora de livros. Qualquer semelhança é mera coincidência.
- Alô?
Uma voz infantil atende o telefone. Eu estranho.
- Quem é? - pergunto.
- É o Uriel.
- Oi, Uri. É a Vanessa.
- Oooi, tiiiiiaaa... - ele responde empolgado.
E eu? Depois de mais de 5 anos, ainda quase choro.
(Imagem: Mauro Taraborelli)